Salvador Dalí dispensa apresentações, certo? Mas, será que o conheces realmente? Expoente máximo do surrealismo, estamos perante um verdadeiro visionário moderno. Uma figura peculiar e impressionante, onde a veia artística forma parte de um todo mais amplo, em que se destaca o fascínio pela ciência e tecnologia.
Com base nesta premissa multifacetada é lançado o mote para “Dalí Cybernetics”, o nome da maior exposição digital do mundo dedicada ao catalão. Desde o dia 3 de de outubro, a mostra está patente na Immersivus Gallery, na Alfândega do Porto, de terça a domingo, das 14h00 às 18h00.
Do início ao fim, trata-se de uma experiência (quase) surreal, mas com Dalí também só poderia ser assim. Com vontade de conhecer melhor todos os seus talentos, recentemente visitámos a exposição, onde perdemos a noção concreta da temporalidade e desafiamos os vários sentidos.
Índice
O que encontrar na exposição de Salvador Dalí?
Independentemente da idade e/ou grau de conhecimento, esta exposição imersiva foi desenhada a pensar em todos. Miúdos e graúdos podem viver de forma diferente esta experiência, concebida com recurso a tecnologias de ponta, numa parceria entre a Fundação Gala – Salvador Dalí e Ocubo.
Numa primeira fase, somos convidados a ler diversos painéis informativos, escritos em português e inglês, numa espécie de (re)descoberta da biografia da figura, que nasceu em Figueres (Catalunha, Espanha). Em simultâneo, ao longo do percurso, surgem vários motivos de interesse.
Desde logo, mesas interativas chamaram-nos à atenção. De cores aguerridas, proporcionam uma verdadeira ‘descodificação’ da linguagem semiótica utilizada por Dalí. O relógio, o coração, o olho, a mosca e as formigas são apenas alguns dos elementos desconstruídos.
Por exemplo, o relógio traduz a passagem subjetiva do tempo. Já as formigas apresentam uma metáfora à ideia de morte, entre outros exemplos. Por esta altura, o sentido do tacto é despertado numa espécie de profecia do que está por vir.
Ligação entre a arte e a cibernética
Na instalação interativa “Galatea da Esferas” — que retrata um dos mais famosos quadros de Salvador Dalí, datado de 1952 —, aproveitamos para abandonar momentaneamente a escrita em detrimento da pintura. Como? Bem, com lápis na mão e o papel na outra, colorimos uma imagem.
Depois de ‘brincar’ com as cores, digitalizamos o elemento gráfico que, tal como se de um átomo se tratasse, ganha vida num conjunto de partículas que formam uma nova peça de arte digital. Da pintura para a cibernética, o engenho do catalão é inquestionável.
Quando volto a fechar os olhos e olho retrospetivamente, o que resta são as imagens que possuem um maior número de bits de informação, ou seja, aquelas que persistem e persistirão sempre na memória”, afirmou o visionário.
Entrar num quadro e mente de Salvador Dalí
Aborrecimento é algo que não assiste a “Dalí Cybernetics”. Pois, as surpresas não param de surgir de forma sucessiva. Após pintar, que tal entrar no interior de um quadro? E foi isso, precisamente, o que fizemos na instalação interativa que representa “A Persistência da Memória”.
Datada de 1931, esta obra foi pintada por Salvador Dalí em apenas cinco horas. Trata-se de uma representação da noção de temporalidade, numa homenagem ao inconsciente e ao tempo interior. Neste sentido, entramos no quadro, assistindo à sua deformação, num convite à reflexão.
Já na estação de realidade virtual, o sentido da visão é enaltecido através de uma imersão total em algumas das suas mais famosas obras. O relógio, a figura de Gala (sua companheira e musa inspiradora), o olho e outros elementos estão lá, numa viagem quase surreal, bem ao estilo de Dalí.
Entre sons e imagens com projeções 360º
À semelhança de outras exposições imersivas de Ocubo, “Dalí Cybernetics” destaca-se pela projeção de imagens em grande formato, numa simbiose perfeita entre os mundos da sonoplastia e do audiovisual.
Desde os tempos passados na sua terra natal aos devaneios geniais no surrealismo, cada pedaço da sua obra é retratado de uma forma impressionante, que apela à vontade de tirar muitas fotografias.
Nesta experiência não só fomos transportados para o universo fantástico de Salvador Dalí, mas também navegamos nas profundezas do seu lado mais íntimo. Uma vivência para perdurar no tempo; embora o tempo seja relativo!