Frida Kahlo dispensa apresentações, certo? Bem, ainda que não sejas um expert na obra da artista, certamente já ouviste falar no seu nome. Nos últimos anos, a mexicana tornou-se ainda mais famosa: o seu rosto e estilo ímpar passaram a retratar várias t-shirts; e a sua vida inspirou a Sétima Arte. Mas será que a conhecemos, realmente? Será que a entendemos?
Com várias questões, visitamos a exposição “Frida Kahlo”, que está na Alfândega do Porto, desde 10 de março, resultando de uma parceria entre o Ocubo, a fundação Frida Kahlo Corporation, o estúdio Layers of Reality e a galeria Ideal Digital Arts Center. O objetivo era só um: mergulhar na biografia de uma das artistas mais influentes de todos os tempos.
A Vida de um Ícone
A duração prevista para a experiência é de 1h15, mas na verdade demoramos mais tempo; e também és livre de absorver cada momento ao teu ritmo. Por aqui, sentimos que não conseguíamos desligar-nos de Frida, de facto trouxemos um pouco dela connosco. Mas já explicamos. Por agora, e como se costuma dizer, há que começar pelo princípio.
Altar da Morte
Damos os primeiros passos na Sala da República, no primeiro andar do edifício da Alfândega do Porto, onde encontramos o incrível Altar da Morte. Caveiras, esqueletos, velas, castiçais e a fotografia de Kahlo ao centro dão-nos as boas-vindas.
O Altar da Morte é o lugar onde os vivos se reencontram com os defuntos. Este momento representa uma tradição típica mexicana. De 31 de outubro a 2 de novembro, as almas regressam às suas famílias, onde são recebidas com uma oferenda. Aqui, percebemos que, a par da vida da pintora, esta experiência é também uma imersão à cultura mexicana.
Destaques de uma biografia ímpar
Seguimos viagem por um corredor, onde há painéis luminosos com textos e imagens sobre a vida deste ícone. Já tínhamos assistido, por exemplo, ao filme “Frida” (2002; Julie Taymor), que retrata alguns factos biográficos da artista. Mas, mesmo assim, aprendemos muitas coisas novas.
Sabias que Kahlo gostava de falsificar a sua data de nascimento? Frida nasceu em 6 de julho de 1907, mas adorava dizer que veio ao mundo em 1910, ano da Revolução Mexicana. Começou a ter problemas de saúde ainda muito cedo. Com apenas seis anos, contraiu poliomielite, que lhe atrofiava os músculos da sua perna direita. De facto, a artista sofreu muito ao longo da sua vida.
Outro aspeto curioso: sabias que a mexicana queria ser médica? Em 1922, Frida protagonizou um grande feito: foi uma das 35 mulheres a conseguir lugar na Escuela Preparatoria Nacional, no coração da Cidade do México. Este seria o primeiro passo para entrar no Ensino Superior e se tornar médica. No entanto, quis o destino que o seu fado fosse outro.
Da convalescença nasce a artista
Em 1925, um acidente mudou para sempre a vida da mexicana. De facto, esta mudança de ambiente sente-se na própria exposição. Após passarmos por um recanto que retrata o sentido de estilo de Frida Khalo, que valorizava as influências tradicionais do México, chegamos a uma zona de puro impacto.
O que quer isto dizer? De repente, somos absorvidos pela intensidade de uma instalação tridimensional multilayer, onde a sobreposição de imagens transparentes cria um efeito de vídeo volumétrico. Aqui, vemos a representação do acidente. O acaso foi tão aparatoso, que se temeu pela sua vida.
Contudo, Frida não só sobreviveu, como também soube reinventar-se. Durante o período de convalescença, a sua mãe ofereceu-lhe um cavalete adaptado para melhor passar o tempo. De um simples hobby, Kahlo descobriu um escape para exprimir a sua dor. Era o nascer de uma artista.
O maravilhoso mundo de Frida Kahlo
Desde o seu acidente, a pintora mexicana teve que conviver com dores crónicas. Diversas vezes, foi submetida a muitas operações. Por conseguinte, no final da sua vida, apresenta-se já demasiado debilitada. Assim sendo, não só a sua arte, mas também a forma como viveu são hoje motivo de admiração.
O seu percurso é de pura superação. Porém, não é apenas pela transformação da dor em arte, que esta mulher se distingue. Em todas as frentes, Frida deu cartas e viveu como quis; à frente do seu tempo e alheia a convencionalismos. Esta liberdade manifesta-se no seu mundo gráfico, para onde somos de seguida transportados.
Muitas cores e realidade virtual
Nesta exposição, nenhum detalhe foi esquecido. Depois da intensidade do acidente, somos absorvidos por momentos repletos de cor. Por toda a parte, surgem macacos, caveiras, folhas, flores e frutos. Abraçamos de frente o imaginário de Frida Kahlo.
No entanto, o momento mais emotivo chega com a realidade virtual. De óculos postos, nada fazia antever o que se iria passar. Ecoam os célebres versos de “Llorona”, canção que relata uma lenda mexicana. Frida está ali mesmo à nossa espera.
Durante nove minutos, mergulhamos no fantástico mundo da artista; enquanto canta para nós. De repente, deixamos a exposição do Porto, cruzamos o mar e chegamos ao México.
Si ya te he dado la vida, llorona. ¿Qué más quieres? ¿Quieres más?”
A animação passa demasiado rápida. Mas nós não conseguimos sair dela.
Uma viagem imersiva
Até aqui, já estamos completamente submersos na vida da artista. Porém, e para nossa satisfação, ainda não acabou. Agora, é tempo de descermos até às galerias subterrâneas, onde nos aguarda uma viagem imersiva e sonora sem precedentes.
Um vídeo de cerca de meia hora passa em loop mais informações e imagens da biografia de Frida Kahlo. A narrativa leva-nos ainda a mergulhar num poema escrito pela pintora. Circulando livremente, de uma ponta a outra, parece que somos transportados para outra dimensão.
No final, uma certeza: apetece-nos abraçar com força a vida, tal e qual como fez Frida!