
O Porto é uma cidade repleta de encantos, mas também de História e edifícios deslumbrantes. Localizado em pleno Centro Histórico, classificado como Património Mundial da UNESCO, o Palácio da Bolsa, ou Palácio da Associação Comercial do Porto, é um dos cartões de visita da Invicta.
À semelhança de outras construções em estilo palaciano locais, não conheceu trono, nem rei. O que quer isto dizer? Ora, desde a Idade Média, o Porto sempre foi uma cidade manifestamente burguesa. Portanto, os palácios aqui existente não foram casa oficial, nem residência de reis e rainhas.
De facto, o próprio nascimento do Palácio da Bolsa, datado do séc. XIX, está ligado ao carácter burguês portuense. Apesar de ser um ex-libris, nunca entraste neste monumento nacional? Famoso pelo seu espetacular Salão Árabe, acredita que há muito mais para contemplar no seu interior. Por isso, “acompanha-nos nesta visita guiada”, como diria a grande Paula Moura Pinheiro!
Como é que tudo começou?
Com mais de um século de existência, este é um dos monumentos nacionais, que todos os habitantes e turistas devem visitar pelo menos uma vez na vida. O edifício demorou mais de 60 anos a ser construído e acolhe, desde os seus primórdios, a Associação Comercial do Porto.
O Palácio foi erguido sobre as ruínas do antigo Convento de São Francisco, que ardeu completamente durante o Cerco do Porto, em 1832. Foi, precisamente, nas terras que pertenceram outrora ao clero, que nasceu um dos símbolos da atividade comercial local.
A doação de D. Maria II
Em 1834, a rainha D. Maria II concedeu as terras do antigo convento ao corpo do comércio da cidade, visando a instalação do Tribunal do Comércio e da Associação Comercial (criada no mesmo ano).
Alguns anos mais tarde, em 1842, é lançada a primeira pedra para a construção do Palácio da Bolsa. No entanto, tal como já foi mencionado, a obra demorou cerca de sete décadas a estar concluída, envolvendo vários arquitetos, estucadores, pintores, pedreiros e centenas de operários. O resultado é um edifício que mescla diversos estilos, onde cada sala tem uma história para contar.
Visita ao Palácio da Bolsa
Os cantos e recantos deste belo edifício merecem uma visita. Os detalhes são muitos, mas as curiosidades também. Sem dúvida, o Salão Árabe é um dos seus ex-libris, em particular por conseguir fazer-nos viajar sem sair do lugar.
Este será, naturalmente, um dos pontos do nosso roteiro. No entanto, há muito mais para descobrir nesta visita guiada ao Palácio da Bolsa.
Pátio das Nações
A visita do Porto Secreto inicia-se no fotogénico Pátio das Nações. Olhando em redor, e apesar de ser ainda o princípio desta experiência, somos de imediato surpreendidos pela riqueza decorativa do espaço.
Esta é a porta de entrada para o interior do Palácio da Associação Comercial do Porto. Desde logo, há um aspeto interessante a salientar. É, precisamente, aqui que subsistem os únicos resquícios do antigo Convento de São Francisco. Isto significa que, o Pátio das Nações foi erguido sobre as ruínas do antigo claustro conventual, herdando dessa altura a ideia de abertura do local.
Porém, este não é o único facto a destacar. Neste átrio avistam-se vários brasões de pontos geográficos diferentes, cenário que faz jus ao nome — Pátio das Nações. Esses brasões representam, precisamente, as 20 nações com quem Portugal mantinha relações comerciais mais ativas, no séc. XIX. Espanha, França e Reino Unido são apenas alguns dos países aí representados.
Escadaria Nobre
A seguir, partimos em direção à monumental Escadaria Nobre. A par do Salão Árabe, este é um dos espaços mais admiráveis do Palácio. Mas é também um dos motivos pelos quais a obra demorou tanto tempo a ser concluída.
Só aqui estima-se que terão sido necessários cerca de 40 anos para ultimar todos os detalhes da escadaria. Concebida pelo arquiteto Gustavo Adolfo Gonçalves e Sousa, há vários pontos de interesse, destacando-se desde logo os detalhes decorativos minuciosos.
Nesta sumptuosa escadaria encontram-se dois lustres em bronze, da autoria de Soares dos Reis, que pesam cerca de uma tonelada e meia.
Do mesmo autor, merecem também destaque dois dos seis bustos, que adornam a envolvente da Escadaria Nobre. Além disso, salientamos outras atrações:
- Os impressionantes frescos alegóricos de António Ramalho;
- A existência doutros bustos, da autoria do mestre Teixeira Lopes.
Sala das Audiências (antigo Tribunal do Comércio)
Na doação dos terrenos, um dos requisitos prévios da rainha D. Maria II foi a criação do Tribunal do Comércio. Sem poder judicial propriamente dito, os litígios comerciais da cidade do Porto deveriam ser aqui resolvidos.
Com um mobiliário praticamente intacto, é evidente que esta sala desconheceu um uso abusivo. Mesmo assim, o Tribunal do Comércio esteve ativo durante algumas décadas.
À semelhança doutros sítios do Palácio da Bolsa, o espaço, também conhecido como Sala das Audiências, apresenta uma decoração exímia, destacando-se as suas pinturas.
Além disso, tivemos a oportunidade de conhecer a ‘quase secreta’ Sala Medina, onde os jurados deliberavam.
Salão Árabe
Depois da visita ao antigo Tribunal do Comércio, percorremos outros espaços igualmente interessantes, como a Sala das Assembleias Gerais, ou a Sala dos Retratos. No entanto, nada é comparável à sensação de assombro causada quando entramos no Salão Árabe.
De repente, somos transportados para um lugar que não parece estar no Porto. Tal como o próprio nome indica, aqui tudo nos remete para a cultura e arquitetura muçulmanas. Este projeto, da autoria de Gustavo Adolfo Gonçalves e Sousa, é uma verdadeira obra-prima.
Para esta construção, o arquiteto inspirou-se numa das maravilhas mais importantes de Espanha (e do mundo), o famoso Palácio de Alhambra, em Granada. Durante vários séculos, este foi o apogeu da presença muçulmana na Península Ibérica.
Portanto, não é de admirar que Alhambra seja uma das grandes referências de Adolfo Gonçalves e Sousa. Nesta sala, mais do que em qualquer outra, domina a riqueza dos detalhes decorativos, em materiais como estuque, madeira e folha de ouro.
Pelas paredes há inscrições árabes que se repetem. Aqui tens a explicação de cada uma delas:
- A vermelho: “Glória a Alá”;
- A azul: “Alá guarda a Califa Miriam II”, em homenagem à rainha D. Maria II;
- A verde: “Alá acima de tudo”.
© @denisgiacobelis
Tudo neste espaço é ‘exótico’. De facto, os únicos elementos que referem a identidade portuguesa do local são dois brasões: um da cidade do Porto; o outro com as divisas nacionais, em homenagem à Dinastia de Bragança (dos tempos liberais). Além disso, há outra curiosidade.
Se olhares com atenção, vais perceber que entre a porta de entrada principal e o pavimento não há simetria. Será um erro do arquiteto? Nem por isso! Esta ‘imperfeição’ foi propositada, visto que no Islão apenas Alá é perfeito. Deste modo, e numa reprodução da arquitetura muçulmana, esta foi uma ‘imperfeição buscada’.
Atualmente, além das visitas guiadas ao Palácio da Bolsa, o Salão Árabe costuma receber eventos privados e/ou concertos de música clássica, devido à sua excelente acústica.
Outras curiosidades
A beleza e a história do Palácio da Bolsa fascinam-nos. Contudo, e apesar de ser impossível contar-te tudo, partilhamos mais algumas curiosidades sobre este ex-libris do Porto:
- Gustave Eiffel, autor da mundialmente famosa Torre Eiffel (em Paris), teve um escritório neste edifício, entre 1875 e 1877.
- O Salão Árabe demorou 18 anos a ser construído;
- Há alguns objetos raros e valiosos, como a pena de ouro que D. Maria II usou para assinar a doação de terrenos do antigo Convento de São Francisco para a construção do Palácio da Bolsa.
Requinte, criatividade, cultura, arte e comércio, tudo isto são termos que encaixam na perfeição e essência do Palácio da Bolsa, um dos monumentos mais belos da cidade Invicta!
Onde: Rua de Ferreira Borges, 4050-253 Porto
Mais informações: 22 339 9000