No Porto, não faltam restaurantes, museus e até lugares secretos para descobrir. Mas, que tal conhecer melhor algumas das nossas lojas históricas? Localizada na Rua Cimo de Vila, a Casa Crocodilo é um destes casos, que vale a pena conhecer. Com mais de 70 anos de vida, o estabelecimento nem sempre teve este nome e morada, contando com muitas curiosidades para contar.
Neste contexto, decidimos fazer uma visita ao local… E, tal como não poderia deixar de ser, o afamado crocodilo embalsamado deu-nos logo as boas-vindas à entrada. Portanto, não havia como enganar, estávamos no sítio certo e a ‘mergulhar’ no mundo da tradicional loja de solas, cabedais e couros. Um lugar familiar e repleto de tradição. Vamos conhecê-lo melhor?
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Como é que tudo começou?
As origens da Casa Crocodilo remontam a 1947, quando o negócio respondia por outro nome e morada. O estabelecimento foi fundado por Tomás de Almeida Coutinho, nascido em Vila Nova de Gaia. Sapateiro de profissão, instalou-se, numa primeira fase, na Rua Chã.
No entanto, pouco tempo depois da abertura da loja, um acontecimento inesperado levou à mudança do nome e respetiva localização. Referimo-nos ao aparecimento do ‘célebre’ crocodilo e à sua inclusão no estabelecimento comercial. Mas, como é que o animal embalsamado foi ali parar?
A chegada do crocodilo e quando tudo mudou
Na altura, uma abastada senhora que residia na Avenida da Boavista perguntou a Tomás Coutinho se queria comprar um crocodilo que tinha trazido do Brasil. O dono da loja ‘perdeu-se de amores’ pelo animal embalsamado.
Assim, e a troco de 30 escudos, o estabelecimento ganhou uma inusitada ‘mascote’ que continua a marcar a sua existência até hoje. Na década de 40, o aparato da ‘aparição’ deste crocodilo foi de tal ordem que atraiu as atenções de inúmeros curiosos, desde o primeiro momento.
No dia em que o trouxeram o crocodilo puseram-no no chão, mas não havia espaço suficiente e as pessoas apinhavam-se na rua para ver o animal embalsamado. Por esse motivo, o meu pai teve que chamar a polícia para ‘controlar’ a situação”, conta ao Porto Secreto, Guilherme Coutinho, de 75 anos, e filho do fundador desta casa.
Depois disso, o animal embalsamado foi colocado no teto para evitar a sua deterioração. Apenas, mais recentemente, a ‘mascote’ foi posicionada à entrada da loja para dar, literalmente, as boas-vindas aos seus visitantes de uma forma original.
Quando o crocodilo saiu da loja
Na nossa visita à loja, tivemos a oportunidade de descobrir dois episódios bastante curiosos. Ou seja, as ocasiões em que o crocodilo saiu da loja.
A primeira vez, nos anos 60, a ‘mascote’ foi utilizada no cortejo universitário portuense a pedido de uns estudantes.
Mais tarde, em 1978, o crocodilo participou nos festejos da conquista do título de campeão nacional do FC Porto, depois de um jejum prolongado.
Casa Crocodilo, uma loja de família
Na Casa Crocodilo vais encontrar solas, couros, cabedais, cintos, porta-moedas, carteiras, pantufas e peles, entre outros produtos. Mas, o melhor de tudo é que ainda hoje, tal como antigamente, podes mandar arranjar algumas das coisas que tens em casa.
Trata-se de uma casa de família, que atravessou já três gerações. Ao lado de Guilherme Coutinho está, precisamente, André Coutinho, ambos filho e neto do fundador do estabelecimento. E no caso de André foi mesmo o amor ao legado familiar que o levou a mudar de vida.
Em 2020 [no auge da pandemia], e apesar de ser farmacêutico de profissão, decidi abandonar a minha carreira para dedicar-me à Casa Crocodilo. Tomei esta decisão para ajudar a manter vivo este negócio familiar“, confessa ao Porto Secreto.
Atualmente, André Coutinho, de 40 anos, é também o responsável pela transição do negócio para o mundo do digital, assumindo a gestão das redes sociais e da criação do site oficial que tem, inclusive, uma loja online.
A Casa Crocodilo é uma loja Porto de Tradição desde setembro de 2017, tendo sido atribuída a respetiva placa em 2019. Um lugar onde ainda se respira o comércio de outros tempos, mas de olhos postos no futuro!
Onde: Rua de Cimo de Vila, nº63
Horário: de segunda a sexta-feira (das 9h30 às 12h30; e das 14h30 às 18h30); sábado (das 10h00, às 12h30); domingo (encerrado)
Mais informações:página oficial da Casa Crocodilo / gcoutinhocrocodilo@sapo.pt