Os cemitérios enchem-se de flores e lamentos em memória de quem já partiu. Mas, apesar de parecer estranho para uns, a verdade é que alguns destes locais de repouso eterno são também sinónimo de riqueza patrimonial, cultural e artística. Ou seja, autênticos museus a céu aberto.
No Porto vais encontrar verdadeiras obras de arte e a última morada de diversas figuras ilustres, como Camilo Castelo Branco, entre outras. De facto, nos últimos anos o interesse por este tipo de ‘passeios’ aumentou. Segundo o site E-konomista, só na Invicta “as visitas mais do que duplicaram”.
Antes de mergulharmos nestes testemunhos de outros tempos, importa mencionar que Portugal integra a Rota Europeia dos Cemitérios (circuito criado pelo Conselho da Europa, em 2010). Portanto, motivos não faltam. Vamos agora sentir os ecos inauditos do passado.
Cemitério do Prado do Repouso
Este é um dos locais de descanso eterno mais notáveis, ou não fosse o primeiro cemitério público do Porto. Com o fim da inumação dentro de capelas, deu-se a inauguração do Prado do Repouso, em 1839.
Um lugar com cerca de 10 hectares, com uma paisagem marcada por história, jazigos e até árvores. De facto, aqui destaca-se a predominância do neogótico, a utilização do granito e a monumentalidade.
Gente ilustre está ali sepultada, como a escritora Ilse Losa, o jornalista e autor Manuel António Pina, entre muitos outros. Além disso, é de destacar vários jazigos e mausoléus, por exemplo:
- Do poeta Eugénio de Andrade, projeto do célebre arquiteto Siza Vieira;
- Da pintora Aurélia de Souza;
- Do pioneiro do cinema luso Aurélio da Paz dos Reis, etc.
No entanto, as ‘atrações’ do Prado do Repouso não se ficam por aqui, visto que há vários monumentos. O ossário das freiras do antigo Convento de S. Bento da Avé-Maria (sobre o qual se construiu a Estação de S. Bento), um cruzeiro antigo ou um Cristo em ferro são apenas alguns exemplos.
📍Largo do Padre Baltazar Guedes
Cemitério de Agramonte
Inaugurado em 1855, na zona ocidental do Porto, este cemitério destaca-se pela sua arte românica. Aliás, Agramonte e o Prado do Repouso têm ambos a mesma particularidade. Ou seja, integram a, já mencionada, Rota Europeia dos Cemitérios.
Além de ser a última morada de grandes figuras portuenses, como Júlio Dinis ou Carolina Michaelis. Por ali, também é possível encontrar vários jazigos com esculturas de Soares dos Reis, António Teixeira Lopes e Alves Pinto. Ao mesmo tempo, há numerosos monumentos.
Em particular, é de destacar o mausoléu em memória das vítimas do aterrador incêndio no Teatro Baquet, em 1888, no Porto. Com materiais pertencentes ao antigo edifício, esta enorme arca presta homenagem às cerca de 120 pessoas que perderam a vida na tragédia.
📍Rua da Meditação, 80
Cemitério da Lapa
Uma visita ao Cemitério da Lapa pode desvendar curiosidades relacionadas com a arte tumular, mas também com as figuras que ali jazem. De facto, a Irmandade da Lapa, responsável pelo espaço, promove anualmente, entre maio e setembro, um ciclo de visitas temáticas.
Porém, para contar a história da Lapa é preciso recuar até à primeira metade do séc. XIX, altura em que o Porto foi afetado pelo Cerco e uma posterior epidemia de cólera. Nesta época, o elevado número de mortes levou a Mesa Administrativa da Irmandade da Lapa a pedir a D. Pedro IV para construir um cemitério privativo externo à sua igreja.
Desenhado com áreas arruadas e ajardinadas, incluindo espetaculares monumentos, a Lapa é um dos cemitérios que se assume como última residência de personalidades incontornáveis, como o escritor Camilo Castelo Branco, ou ainda o arquiteto Marques da Silva, entre outras.
📍Largo da Lapa, 1