O que têm em comum Manoel de Oliveira e Aurélio da Paz dos Reis? São ambos ilustres portuenses, certo, mas há algo ainda mais forte que os une, nomeadamente o facto de terem deixado um legado inestimável no cinema português.
No entanto, foi com Aurélio da Paz dos Reis que tudo começou. Comerciante, floricultor, amante da fotografia e cinéfilo, este portuense é considerado o pioneiro do cinema em Portugal… E tudo começou em 1896. Ou seja, menos de um ano após a exibição pública do filme dos irmãos Lumière em Paris (França).
Os primeiros passos do cinema português
Fascinado pelo cinematógrafo dos irmãos franceses, Paz dos Reis viajou até Paris para o comprar, mas sem sucesso. Contudo, acabou por adquirir um aparelho semelhante aos irmãos Werner. Este ficou conhecido por Kinematografo Portuguez e cumpria a intenção pretendida: filmar.
Assim, filmou o seu primeiro filme na Rua de Santa Catarina, hoje uma das vias mais movimentadas da cidade, na Camisaria Confiança, uma fábrica, com o intuito de registar o pessoal que lá trabalhava.
“Saída do Pessoal Operário da Fábrica Confiança”
Ainda que não tenha sido o primeiro filme a ser filmado em território nacional, foi o primeiro a ser realizado em Portugal por um português, pelo que marca o início da cultura cinematográfica portuguesa.
A estreia pública do cinematógrafo, com a exibição do primeiro filme e outros documentários que retratavam a vida nacional, deu-se a 12 de novembro de 1896 no Teatro do Príncipe Real, hoje conhecido como Teatro Sá da Bandeira.
Apesar de ser o precursor e pioneiro do cinema português, e após ter realizado alguns filmes documentais, acabou por deixar esta atividade. Isto porque, o comerciante do Porto foi perdendo o entusiasmo face à indiferença do País pelas suas criações e esta nova forma de arte.
Sempre apaixonado pela cultura, Paz dos Reis era uma personalidade de respeito e admiração na cidade. Para além de participar nas mais variadas atividades culturais, ocupou o cargo de vereador e presidente substituto da Câmara do Porto. Faleceu em 1931 e está sepultado no Prado do Repouso.