Às vezes, não é preciso sair fisicamente de um lugar para viajar até universos distantes. Foi, precisamente, isto que sentimos durante a nossa experiência em “Spiritus”, um espetáculo de video mapping que está em exibição na Igreja dos Clérigos até outubro. Trata-se de um projeto artístico desconcertante e sensorial.
Com o selo de qualidade do atelier Ocubo, “Spiritus” apresenta uma interpretação livre do poema “Afinal, a melhor maneira de viajar é sentir”, assinado por Álvaro de Campos, um dos heterónimos do célebre Fernando Pessoa. Uma viagem profunda e íntima, num verdadeiro jogo de poesia, música, luz e energia.
“A melhor maneira de viajar é sentir”
Viajar é sinónimo de alargar horizontes e desbravar novos caminhos. No entanto, a melhor maneira de viajar é, sem dúvida, sentir. Com esta premissa, “Spiritus” leva-nos para outros universos, numa experiência intensa e mágica, com a Igreja dos Clérigos como fundo.
Antes do espetáculo de luz e cor começar, somos envolvidos pela voz de João Reis, reconhecido ator do teatro, cinema e televisão portuguesa, que declama os seguintes versos:
Afinal, a melhor maneira de viajar é sentir.
Sentir tudo de todas as maneiras.
Sentir tudo excessivamente.”
Uma metáfora para a própria vida
Com os versos de Álvaro de Campos a servirem de presságio, de repente somos embalados por uma jornada transcendental. Durante 30 minutos, somos convidados a experienciar uma dose pura de criatividade, espiritualidade e mindfulness.
Nesta viagem abstrata e sensorial, cada momento foi pensado ao pormenor. A simbiose entre luz, música e cor reflete cada paragem, num percurso que contempla cinco pontos principais:
1 – Origem
Este é o ponto de partida da nossa viagem, onde a partir de uma explosão de luz se questiona a própria existência.
2 – Desarmonia
Subitamente, o cenário muda… Chega o caos e o frenesim, numa espécie de constatação que para alcançar a harmonia precisamos, em primeiro lugar, desta agitação.
3 – Respirar
Após o clímax caótico, “Spiritus” brinda-nos com um sopro de serenidade, de modo a conseguirmos seguir viagem.
4 – Harmonia
Há quem acredite que depois da tempestade vem a bonança… Por esta altura, alcançamos a harmonia.
5 – Recomeço
Tal como a própria vida, a jornada poética e metafórica de “Spiritus” é infinita. Afinal, a única constante é a certeza de percorrer um caminho, seja ele qual for:
Sou um monte confuso de forças cheias de infinito
Tendendo em todas as direções para todos os lados do espaço.
A Vida, essa coisa enorme, é que prende tudo e tudo une.
E faz com que todas as forças que raivam dentro de mim.”