Para quem aprecia planos ao ar livre, passear nos espaços verdes da cidade é sempre uma boa opção. Afinal, a qualidade de alguns dos jardins do Porto até já foi reconhecida a nível internacional. Sem gastar dinheiro, pois a entrada é gratuita, podes sempre passar no Jardim Botânico do Porto, na Rua do Campo Alegre. Rodeado de plantas exóticas, este lugar combina na perfeição natureza, conhecimento e literatura.
No entanto, este belo jardim é muito mais do que a casa de espécies de plantas raras. A criação da Galeria da Biodiversidade – Centro Ciência Viva alargou o seu leque. Mas há muito mais para contar. O nosso objetivo é percorrer a história deste espaço, bem como a sua ligação à escrita ímpar de Sophia Mello Breyner Andresen, uma ilustre portuense.
Índice
História da Quinta do Campo Alegre
O Jardim Botânico do Porto nasceu na antiga Quinta do Campo Alegre. Esta teve vários proprietários. Mas é, precisamente, nos seus últimos donos que ganhou um maior esplendor. Estamos a falar dos conhecidos Andresen.
Em 1895, João Henrique Andresen Júnior e a esposa Joana Andresen compraram a Quinta do Campo Alegre. Esta família, com ligações ao comércio do vinho do Porto, marcou a feição da casa e dos seus jardins.
Dois membros dos Andresen tornaram-se célebres escritores: Sophia de Mello Breyner e Ruben A. Ambos colecionaram memórias na Quinta do Campo Alegre e nos seus belos jardins; o que viria a inspirá-los mais tarde.
Este não foi o primeiro Jardim Botânico
Retomamos agora a pergunta inicial: sabias que o primeiro Jardim Botânico do Porto não ficava na Rua do Campo Alegre? É verdade! O primeiro Jardim Botânico do Porto foi estabelecido na cerca do extinto Convento dos Carmelitas, em 1866.
Poucos anos mais tarde, em 1903, o Jardim foi instalado na Cordoaria. Contudo, por muito pouco tempo. Só apenas em 1951, a Universidade do Porto e a cidade voltariam a ter o seu Jardim Botânico, precisamente no local onde hoje nos encanta.
O início de uma nova vida
Os Andresen mantiveram-se na posse da Quinta do Campo Alegre até 1949. Mas, nesta altura, a propriedade foi vendida ao Estado Português.
Após algum tempo de abandono, o Professor Américo Pires de Lima e Franz Koepp (arquiteto-paisagista alemão) lançaram as sementes para a nova vida do Jardim Botânico.
Koepp projetou alguns recantos icónicos, como o Jardim do Xisto ou o Jardim do Peixe.
O Jardim Botânico dos tempos modernos
No início dos anos 2000, e após algumas obras, o Jardim Botânico reabriu ao público. Isto, depois de algum tempo fechado desde os anos 80.
A composição dos jardins e a organização do espaço
Atualmente, e num espaço de 4 hectares, o Jardim Botânico divide-se em três patamares de caraterísticas distintas.
De modo geral, esta é a composição do espaço do Jardim Botânico:
- A Casa Andresen e a área envolvente, com um jardim histórico composto por três partes diferentes (Roseiral, Jardim dos Jotas e Jardim do Peixe). Sem esquecer, as altas sebes de camélias;
- Estufas;
- O Jardim de Catos e de Suculentas;
- Espaços de árvores centenárias e várias espécies raras e/ou exóticas;
- Pequenos lagos, etc.
Museu de Biodiversidade
Os espaços da antiga Quinta do Campo Alegre ganharam, em 2017, um novo ponto de interesse. A Galeria da Biodiversidade – Centro Ciência Viva está instalada na Casa Andresen.
Este espaço é o resultado de um cruzamento de arte com biologia e história natural. Por conseguinte, aqui, podes encontrar vários módulos e temas, ligados à diversidade biológica e cultural da atualidade.
O jardim e a literatura
No entanto, nem só de botânica e ciência se faz este espaço. Casa de árvores e camélias centenárias, estes jardins servem também de palco ao mundo dos livros.
De facto, este é um lugar de referência na vida e na obra dos famosos escritores Sophia de Mello Breyner e Ruben A. Afinal, ambos passaram parte da sua infância e juventude na Casa Andresen.
O rapaz de bronze
São vários os excertos e referências à antiga Quinta do Campo Alegre nas obras de Sophia Mello Breyner e Ruben A. Porém, vamos centrar-nos no livro “O Rapaz de Bronze”.
Este é um livro infantil, da autoria de Sophia, editado na década de 60. Nesta obra é evidente a conexão da escritora com o espaço que hoje conhecemos como o Jardim Botânico do Porto.
Para perceber esta ligação, basta ler o trecho do livro “O Rapaz do Bronze”, que está numa placa no local:
Num lugar sombrio, solitário e verde, havia um pequeno jardim rodeado de árvores altíssimas. No meio desse jardim havia um lago redondo sempre cheio de folhas. No centro do lago havia uma ilha muito pequena onde cresciam fetos e no centro estava uma estátua que era um rapaz de bronze.”
Poderíamos destacar aqui outros livros e excertos, que refletem a inspiração dos escritores nas suas memórias e beleza do local. Mas, o melhor mesmo é ires explorar e contemplar este jardim mágico, em plena cidade do Porto.