Com mais de oito séculos de existência, Portugal é um país repleto de história e curiosidades. Como não poderia deixar de ser, a nossa cidade do Porto tem assumido um papel de destaque ao longo dos tempos. Desde a origem do nome do País a outros grandes feitos, não restam dúvidas quanto à importância da Invicta. Sendo uma cidade tão antiga, não é de surpreender que por aqui se tenham criados mitos e lendas.
Alguns destes mitos e lendas sobre a cidade do Porto foram sustentados por crenças atuais, ou histórias que se vão descobrindo através de obras de restauro ou simples aventuras na cidade. Por isso mesmo, a equipa do Porto Secreto partiu à procura de alguns destes casos. Vamos lá conhecer quatro mitos e lendas que pairam sobre a nossa Invicta?
1 – O fantasma de São Bento
A Estação de São Bento é um símbolo e um ícone da cidade do Porto, um ponto de visita de obrigatória seja para quem for. No entanto, este espaço nem sempre foi ocupado por caminhos de ferro. Na verdade, anteriormente era um convento: o Convento de São Bento da Avé Maria (o que também explica o nome da estação).
Consta-se que, por volta de 1834 sai um decreto que ordena a extinção de todas as ordens religiosas, pelo que a do Convento de São Bento da Avé Maria não era exceção. Contudo, no lia-se no decreto que as ordens religiosas que albergassem apenas mulheres, como era o caso, seriam apenas extintas aquando do falecimento da última freira residente.
Apenas em 1892 (mais de 50 anos depois da ordem de extinção) se começou a fazer planos para a construção de uma estação ferroviária naquele local, aquando da morte da última freira, que ali resistiu durante todo esse tempo.
Ora, o mito do fantasma de São Bento prende-se, precisamente, com esta irmã, “teimosa” e crente irrefutável. Diz-se que, algumas noite, e ainda hoje, é possível ouvi-la a rezar pelos corredores da estação, tendo sido, por isso, apelidada de “Fantasma de São Bento”.
2 –Vinho do Porto
Diz-se que, por volta de 1679 saiu uma embarcação do Porto rumo a Londres, com barris de vinho do Porto a bordo. A embarcação foi atacada por um consórcio francês e, para se salvar, fugiram para alto mar, tendo-se afastado da rota prevista.
Acabaram por parar para reabastecer em São João da Terra Nova, mas viram-se impossibilitados de retomar a viagem devido ao rigoroso inverno que se fazia sentir. Consta-se que apenas voltaram a embarcar na primavera seguinte, tendo, depois, chegado ao destino sem sobressaltos.
O espanto veio quando perceberam que todo aquele tempo em São João da Terra Nova tinha feito com que o vinho adquirisse um aroma e sabor diferentes, mas de forma agradável. Diz, então, que desde aí não pararam as encomendas de vinho do Porto, que passaram a envelhecer em Terra Nova antes de chegarem ao destino final.
3 – As Tripas
Já muito se falou sobre a origem do apelido “Tripeiros” e a, segundo reza a lenda, está relacionado com o sacrifício do povo portuense em apoio ao Infante D. Henrique, em 1415. Consta-se que, quando o Infante preparava, no Porto, as embarcações para partir para Ceuta, a população da cidade juntou-se e ofereceu bens alimentares, ficando com os restos: “as tripas”.
Contudo, esta é apenas uma teoria sobre a origem deste prato portuense. Outra lenda remonta ao tempo dos suevos, que se começaram a expandir após a queda do império romano. Diz-se que, na sua expansão, fizeram do Porto uma das suas principais cidades. Mais ainda, as tripas faziam parte da sua alimentação, sendo que se tornavam parte da gastronomia local por onde passavam.
Existem, ainda, outras lendas e mitos que se centram na origem desta delícia portuense. Contudo, a história de sacrifício, lealdade e apoio ao Infante D. Henrique dificilmente perderá destaque para uma das outras. Ainda mais uma vez que não é possível confirmar a veracidade destas lendas. Nesta história reside parte da resiliência do povo portuense, por isso não manteremos esta lenda viva e bem viva!
4 – Ilha do Frade
O último dos mitos e lendas que pairam sobre o Porto que te trazemos leva-nos onde atualmente se encontra o Largo de António Calém. Neste mesmo local existiu, outrora, uma pequena ilha, no estuário do Douro, que ficou conhecida como a “ilha do frade”. Mas, qual a sua história?
Segundo reza a lenda, existia um mosteiro, do lado de Gaia, de frades franciscanos. Tal como era comum naquela altura, a leiteira levava o leite ao mosteiro e todos os dias, o porteiro, encarregue de a receber, apaixonava-se mais um pouco. Certo dia, o porteiro ganhou coragem e confessou à leiteira o seu amor por ela, acrescentando que não era frade e que poderia abandonar o mosteiro quando quisesse.
Diz-se que esta, que tinha namorado, contou-lhe o que se andava a passar, e que o namorado preparou uma tramoia ao “frade”. Assim, nos dias seguintes, a leiteira, instruída pelo namorado, aceitou o encontro com o jovem porteiro e disse-lhe que um barco o iria buscar e levá-lo ao seu encontro. Entusiasmado, o jovem entrou no barco, preparado para o encontro com o seu amor.
Desceu do barco e esperou. Contudo, o nevoeiro era intenso e a noite tinha caído cerrada, não tendo noção de onde estava ou que poderia fazer. Acabou por adormecer e acordou no dia seguinte. Foi aí que se apercebeu do que tinha acontecido. Acordou sozinho, numa ilha, com o casal de namorados a rir do outro lado da margem. Desde então que esse pedaço de terra é conhecido como “Ilha do Frade”.
Mas a importância desta lenda vai mais além. Não sendo, talvez, tão curiosa quanto as outras, esta lenda é quase como que um vestígio que indicia a existência de um mosteiro naquela zona. Não existem provas físicas da sua existência, mas esta lenda é um sinal de que pode, de facto, ser verdade e que havia um mosteiro de frades franciscanos naquele local.